terça-feira, 24 de junho de 2014

Aventuras e devaneios

Já ia tarde aquela madrugada onde tudo parecia misturar-se num enredo fruto da conjugação das estrelas, da lua, do sol! Mas de repente chega Marileide, com um vestido azul turquesa meio sujo e rasgado como se há muito tempo tivesse sido deitado fora.

- JOÃO! - Grita Marileide com desespero e angustia na voz. – Que bom ter-te agora ao meu lado, eu não sei o que mais posso fazer .

- Marileide? Estás viva?!?! Estás tão… Que roupas são essas? – Pergunta João.

 Marileide olha em redor. Na praça central onde se encontravam, tudo estava vazio, não se via uma única pessoa, o café habitualmente frequentado por bêbados, tinha as portas fechadas. E até a fonte, onde costumavam estar mulheres a lavar a roupa e crianças a brincar, estava seca como se há muito não tivesse uma única gota de água a correr pelas lajes.

 - Onde está toda a gente? – Pergunta Marileide a olhar sobre o ombro e agora com a respiração menos ofegante.

- Tenho tanta coisa para te perguntar. – Diz João com um certo brilho nos olhos. - Por onde tens estado? Toda a gente pensou que tivesses fugido. Tu foste embora e a tua mãe assumiu que a sobrinha da prima da tua tia-avó em 3º grau tinha-se apaixonado pelo seu tio avô que estava em coma, por ter dito à nora que rapava os pelos do peito. Ficando a saber a nora de tal atrevimento, a coitada ainda chocada com a noticia decidiu divorciar-se imediatamente do marido que ficou desgostoso, caindo em cima do próprio pai que foi parar ao hospital com três costelas partidas e um traumatismo craniano. Descobre-se no hospital, por analises ao sangue, que ele mesmo não era afinal um homem, mas sim uma mulher que estava a passar por um doloroso processo de transexualidade, razão essa para não ter pelos no peito.

 - Ohhh não. – Choraminga Marileide com uma súbita pronuncia brasileira. – Mas afinal que bobagem é esta? Tudo começou porque o Getulio me pediu em casamento, eu sem saber o que responder, fugi. Dei por mim, tinha corrido tanto mas tanto que me perdi no meio da selva. Encontrei uma tribo que me acolheu durante este tempo todo. Mas houve uma pessoa que eu nunca fui capaz de tirar da cabeça.

 - O Getulio, Marileide? – Pergunta João, também com uma pronuncia brasileira.

 - Não, você João. Eu te amo, eu te quero demais. – Responde Marileide.

 - Todo este tempo eu pensei que você nada queria comigo Marileide. Eu te amo desde que você me pediu ajuda no vestibular de matemática. Lembra? – Pergunta João com um claro entusiasmo na voz e nostalgia de quem relembra os tempos antigos. – Vamos fugir juntos Marileide, ter filhos e nunca mais voltar. Que diz?

 - E o resto da galera João, onde está toda a gente? – Pergunta Marileide com amedrontamento na voz.

 - Todo o mundo está neste momento vendo a copa Brasil, provavelmente Portugal a perder por 3 ou 4 golos. Já o Brasil segue em frente. Por isso pouco importa Marileide, vamos ser felizes. – Responde João.

 - Vamos então João. – Diz Marileide. – Só uma coisa João!

 - Que é? – Pergunta João.

 - Cadê a minha Bimby?

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Sonhos

Tudo indicava ser mais um dia de Sol. Estávamos em pleno mês de Julho e ao ligar a televisão as noticias continuavam a ser as mesmas do dia anterior, redução do preço do biodiesel, menor taxa de desemprego de sempre, o nível de endividamento das famílias portuguesas diminuiu de 10 para 7% do PIB, aumento do IVA de 2 para 3%. Na verdade pouca gente deu importância à medida governamental pois não fazia 4 meses que o ordenado mínimo tinha sido aumentado para 1300€. Quase podia dizer que estava tudo bem comigo, não fosse o médico no dia anterior ter-me aconselhado a ter maior controle sobre aquilo que comia. Que mais podia eu querer? Peças de teatro garantidas para os próximos 5 anos, e actualmente a gravar uma série com um argumento brilhante. Estou a lavar a loiça do pequeno almoço quando uma noticia de rodapé me alerta, o Facebook acabou. Como seria isto possível? Uma rede social tão importante como esta não podia simplesmente acabar. O que fazer agora? De que forma podia eu ver o que andam os outros a fazer, e quem é a namorada ou namorado de quem? E como é que posso agora cuscar as fotografias das férias de Monte-gordo daquele e do outro? Merda. Dou por mim a querer libertar tamanha raiva e frustração no computador, mas lembro-me que pura e simplesmente não existe Facebook. Como posso eu partilhar esta escandalosa noticia com os meus 2563 amigos, agora que não existe facebook? Abro os olhos, o quarto está todo escuro, limpo ligeiramente a baba que me escorre do canto da boca, pelo despertador vejo que são 04:24. Levanto-me, dirigo-me à cozinha, abro o frigorifico e bebo longos goles de água fresca. De volta ao quarto, faço um enter no portátil e abro o facebook. Já tenho 18 likes e 4 comentários na fotografia que postei na minha cronologia. Porra que susto. Vou dormir.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Sentir e ver.

Tanto faria para perceber, para ver, cheirar, sentir. Duas crianças andavam a brincar. Uma delas pulou por cima de uma caixa que se encontrava bem no meio daquele parque. A outra sem saber o que fazer, correu. Correu sem parar. As lágrimas corriam com ela, tal era a velocidade do vento a bater-lhe na cara, e tanto faria para perceber, para ver, cheirar e sentir o mesmo que a outra criança. Nesse dia à noite a televisão entra as várias reportagens noticiadas, falou das duas crianças. Naquele ultimo dia aprenderam a ver.

domingo, 11 de março de 2012

O sonho

Apenas desejo, nada mais João. Quantas formas, pensas vir a ter amigo? De que maneira queres tu lidar com o mundo?

Acho que ando a ler demasiado João.
Tive um outro sonho, estava num espaço amplo, numa das paredes lá ao fundo encontrava-se a dita porta fechada, desta vez pintada de azul e amarelo. No espaço havia um ringue de boxe, as cordas delimitadoras do ringue eram na verdade esparguete. Dois cães sentados junto do ringue a olhar fixamente para a porta. Entra uma mulher dos seus 60 anos e abre-me a porta, um dos cães levanta-se, segue até à porta, mija para a mesma e passa para o lado de lá, o outro olha para mim e espantosamente diz-me:
- Estás comigo, estás com Deus.
Pego no comando da televisão e fecho a porta como se de uma televisão se tratasse. Olho para o lado oposto e vejo um campo aberto, a cor do céu era simplesmente perfeita, era da cor dos sonhos cor-de-rosa.

Xavier Rolando

sábado, 10 de março de 2012

Caro Xavier

Caro Xavier,

Não pretendo que a minha mensagem seja do seu agrado, ainda assim, já pensou em lutar pelas suas causas? Não estará com pensamentos um tanto ou quanto egocêntricos, acha-se mesmo o centro do mundo? Oportunidades? Há que lutar por elas não? As oportunidades não nascem da árvore das patacas.
E qual é o seu objectivo? Saltar o charco? Percebo a metáfora, mas será que alguma vez encontrará o seu lar, o lugar onde pensa vir a ser feliz com todos os seus sonhos concretizados?
Caro Xavier, não estará simplesmente a fugir do mundo e a colocar a cabeça debaixo da terra? Sonhar é bom, mas viver é ainda mais.

Com os meus cumprimentos,

João André

Não há espaços recentes

Há alturas na vida onde não fazemos a distinção do estar acordado ou a dormir. Perdemo-nos naquilo que pensamos ser sonho.
Não me consigo mexer.
Não mexo um único dedo.
De repente dou por mim a voar.
Encontro uma porta.
Olho pelo buraco da fechadura e do outro lado encontra-se um mundo à minha espera.
Tudo é possível do outro lado, todos os meus desejos podem ser concretizáveis do outro lado e a única coisa que nos separa é uma porta. A ironia é que o detentor dessa fechadura sou eu mesmo. A chave está comigo. No meu bolso direito, sinto o seu peso, a sua forma, mas é-me impossível tirá-la do bolso, quanto mais abrir a porta.
No outro dia, sonhei que finalmente a porta que se me enfrentava tinha sido aberta. Mas algo me impedia de passar para lá da porta. Tinha uma daquelas correntezinhas irritantes que quase deixam pôr a mão pela porta e desprender a corrente, mas nada.
Tudo me era possível, voar, lutar, tocar piano como um verdadeiro Gershwing, tudo menos passar para o lado de lá.
Sinto sempre tanto receio de me repetir, de que seja ridicularizado por aqueles que me observam, que me digam "andas a ver filmes a mais". Cuidado com o Matrix. Não há ideias novas, nem novas ideias, não há histórias recentes, no máximo apenas estórias.
Só pretendo uma oportunidade.
Gostava de saltar. Chegar ao cabo da roca olhar em frente e conseguir saltar o charco de água que me separa de um mundo mais real mas muito mais utópico.

Não me apetece cuidar de ninguém.
Apenas observo.


Xavier Rolando

sábado, 3 de setembro de 2011

Excerto de manifesto

Porque havemos nós de estar parados? Porque havemos nós de nos mexer?
Nós que somos o prefácio da história que se avizinha, ou devermos nós chamarmo-nos como posfácio?
Não passamos de meros precedentes, nós somos o imitatio. Somos a representação da natureza, mas se a natureza é caótica porque não havemos nós também de o ser? A representação não tem apenas relações com aquilo que é exterior, tem relações intra-literárias, são relações que passam por cânones. Nós não somos o decorum, não nos adequamos aos contextos, às normas e regras sociais, às audiências.
O orador é uma espécie de sociólogo, um conhecer do meio-social, é o gajo que tem tomates para dizer aquilo que o poeta não diz, aquilo que o poeta apenas escreve. Nós somos o orador, nós somos o verdadeiro regenerador linguístico.
Deparamo-nos com o dia-a-dia, somos julgados pelo tempo que teima em não parar, nós despojamo-nos perante aquilo que é suposto ser alguma coisa, e nunca nos apercebemos que NÓS somos máquinas de uma sociedade que teima e nos obriga a fazer o que Eles querem.
Um dia parámos e fomos lembrados a Respirar, e como foi bom Respirar. Reaprendemos a andar sabendo e não esquecendo que respiramos, e tocamos, e falamos com o outro e com o nosso. Emancipámos as reacções uns dos outros, percebemos que afinal nos resumimos a Nada.
Somos NADA, mas queremos TUDO. TUDO é nosso por direito. Vamos exigir.

Cantemos o nosso hino nacional:
“Herois do mar, nobre povo.
Viva a Televisão e a sua propaganda alienada e bondosa a favor dos feridos da guerra.
Morram os velhos e debilitados, viva o Capitalismo, viva o dióxido de carbono. Morram os pacifistas, morte aos pretos, ciganos, indianos, fora com os intrusos.
PORTUGAL A OS PORTUGUESES. Contra o canhões marchar, marchar”

Nasce um cordeiro no meio do pó, nasce uma flor no fumo preto do subsolo onde há muito que o Sol não governa nem ilumina. Fim de tudo o que é materialista, ganha a Mãe.

Manipula, exerce, controla e sê controlado, grita sem engolires em seco.

(Todo o excerto que se segue deve ser declamado com um leve e gracioso sorriso na boca, todo ele soará melhor com o 2º movimento da 7ª Sinfonia de Beethoven como musica de fundo, é favor respeitar as Pausas que o autor sugere)

Respira ar puro. [PAUSA ] Cria e dá ao outro, sorri que não pagas por isso,[PAUSA] sonha,[PAUSA] luta por aquilo que ambicionas, não sejas egoísta. [LONGA PAUSA] Colhe a planta e planta duas a seguir. Dá comida ao pobre, ao que quer e não quer, ao cão, ao gato. Fala, ensina, oferece sem pedires retorno, sê ponderado, [PAUSA] não mates, [PAUSA] não roubes. Se erras cais.

Ou então queima tudo isto.
Pega nesta folha, queima tudo, apaga esta mensagem, manda-nos pro caralho, parte-nos a cara, sê aquilo que tu queres ser. Antecipa-te às acções, pós-brutalidade. É isso, irrita-te, chega à rua e manda um FODASSE bem alto. Enfia o dedo no cu, faz aquilo a que te deves se assim o queres.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 É o que somos.