Há alturas na vida onde não fazemos a distinção do estar acordado ou a dormir. Perdemo-nos naquilo que pensamos ser sonho.
Não me consigo mexer.
Não mexo um único dedo.
De repente dou por mim a voar.
Encontro uma porta.
Olho pelo buraco da fechadura e do outro lado encontra-se um mundo à minha espera.
Tudo é possível do outro lado, todos os meus desejos podem ser concretizáveis do outro lado e a única coisa que nos separa é uma porta. A ironia é que o detentor dessa fechadura sou eu mesmo. A chave está comigo. No meu bolso direito, sinto o seu peso, a sua forma, mas é-me impossível tirá-la do bolso, quanto mais abrir a porta.
No outro dia, sonhei que finalmente a porta que se me enfrentava tinha sido aberta. Mas algo me impedia de passar para lá da porta. Tinha uma daquelas correntezinhas irritantes que quase deixam pôr a mão pela porta e desprender a corrente, mas nada.
Tudo me era possível, voar, lutar, tocar piano como um verdadeiro Gershwing, tudo menos passar para o lado de lá.
Sinto sempre tanto receio de me repetir, de que seja ridicularizado por aqueles que me observam, que me digam "andas a ver filmes a mais". Cuidado com o Matrix. Não há ideias novas, nem novas ideias, não há histórias recentes, no máximo apenas estórias.
Só pretendo uma oportunidade.
Gostava de saltar. Chegar ao cabo da roca olhar em frente e conseguir saltar o charco de água que me separa de um mundo mais real mas muito mais utópico.
Não me apetece cuidar de ninguém.
Apenas observo.
Xavier Rolando
sábado, 10 de março de 2012
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