sábado, 10 de março de 2012

Não há espaços recentes

Há alturas na vida onde não fazemos a distinção do estar acordado ou a dormir. Perdemo-nos naquilo que pensamos ser sonho.
Não me consigo mexer.
Não mexo um único dedo.
De repente dou por mim a voar.
Encontro uma porta.
Olho pelo buraco da fechadura e do outro lado encontra-se um mundo à minha espera.
Tudo é possível do outro lado, todos os meus desejos podem ser concretizáveis do outro lado e a única coisa que nos separa é uma porta. A ironia é que o detentor dessa fechadura sou eu mesmo. A chave está comigo. No meu bolso direito, sinto o seu peso, a sua forma, mas é-me impossível tirá-la do bolso, quanto mais abrir a porta.
No outro dia, sonhei que finalmente a porta que se me enfrentava tinha sido aberta. Mas algo me impedia de passar para lá da porta. Tinha uma daquelas correntezinhas irritantes que quase deixam pôr a mão pela porta e desprender a corrente, mas nada.
Tudo me era possível, voar, lutar, tocar piano como um verdadeiro Gershwing, tudo menos passar para o lado de lá.
Sinto sempre tanto receio de me repetir, de que seja ridicularizado por aqueles que me observam, que me digam "andas a ver filmes a mais". Cuidado com o Matrix. Não há ideias novas, nem novas ideias, não há histórias recentes, no máximo apenas estórias.
Só pretendo uma oportunidade.
Gostava de saltar. Chegar ao cabo da roca olhar em frente e conseguir saltar o charco de água que me separa de um mundo mais real mas muito mais utópico.

Não me apetece cuidar de ninguém.
Apenas observo.


Xavier Rolando

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